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Miss Messy

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Os pedintes

A prática de pedir esmolas é antiga, tão antiga quanto o próprio dinheiro.

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Sempre me considerei uma alminha caridosa. Não posso ver ninguém a pedir na rua que fico automaticamente de coração partido. Recordo-me de um dia estar a passear pela Rua Augusta com a minha mãe e de ver um senhor sentado na calçada a pedir esmola gemendo de fome e dizendo que não tinha dinheiro para comer. Eu, de coraçãozinho partido com os meus singelos sete anos de idade, retirei a carcaça com Tulicreme que trazia na minha mini-mala e ofereci-lha. Relembro-me que essa atitude me deixou toda satisfeita e que recebi largos elogios por parte da minha mãe por ter tido tão nobre atitude.

E assim foi, durante toda a minha vida, dei de comer, dei roupa, chorei por ver miséria atrás de miséria, ofereci cabazes com comida e bens necessários mas nunca fui capaz de dar um tostão que fosse para a grande maioria das pessoas...e agora é a parte em que me chamam de sovina, mas eu explico. Não dou porque, infelizmente, é nítido que muitos dos pedintes que nos abordam nas ruas são, na realidade, viciados em drogas, logo, as esmolas doadas são usadas para alimentar este vício. Já tive semi discussões com mendigos por lhes oferecer comida ou oferecer-me para lhes pagar qualquer coisa que lhes aconchegue o estômago e na verdade só queriam dinheiro. Ora quem tem fome não come moedas e aceita de boa vontade a esmola que lhe está a ser oferecida. É a minha teoria.

 

Ontem, enquanto jantava com uma amiga no Centro Comercial Colombo, fui abordada por uma senhora com os seus 40 anos de idade que dizia estar cheia de fome. Eu que me deliciava com o meu bife Portugália, senti-me um pouco mal por ver alguém proferir a palavra "fome" enquanto eu tinha o prato a abarrotar de comida, e por isso, e uma vez que me pedia comida, resolvi ajudar. Perguntei-lhe então o que queria comer e a senhora respondeu-me KFC. Tudo bem... Chegadas ao KFC, perguntou-me se podia pedir um balde com pernas de frango (o menu mais caro por sinal, mas tudo bem), respondi-lhe que sim. Não tinha filhos, não tinha trabalho, vivi-a com o namorado e dizia passar muitas dificuldades. Eu tento sempre não duvidar das pessoas porque entendo que a situação do país não seja realmente fácil para muita gente, mas era uma senhora jovem, com braços e pernas para trabalhar nem que fosse a limpar escadas. Acabei por me questionar se não seria mais uma viciada que se encosta às esmolas da sociedade e assim vai vivendo. Já ajudei muita gente que, acabei por descobrir, que eram meros "parasitas da sociedade" porque não tinham o que comer porque simplesmente não queriam trabalhar.

De qualquer das formas, paguei-lhe o jantar e fiquei de consciência tranquila.

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