Opostos atraem-se, mas será que se suportam?
Uma relação a dois, por muito que tenha os seus altos e baixos, só é realmente testada quando duas pessoas aceitam viver em conjunto debaixo do mesmo teto.
Uma ex-colega de faculdade que não dispensava uma ida ao café todas as noites depois do jantar, uma boa saída à noite, um bom programa de fim-de-semana cheio de adrenalina e outras coisas mais típicas de alguém com uma personalidade "vivaça" começou a namorar com um rapaz pacato que não gosta de cafés, que não tem paciência para noitadas e que não é muito dado à adrenalina. Inicialmente, tudo parecia ser perfeitamente aceitável porque na opinião dela, tal como dizia o velho ditado, os opostos atraem-se e o amor no fundo é o que prevalece. Por este motivo decidiram à uns meses arrendar uma casa juntos, viver uma nova fase e testar se esta teoria lhes assentava que nem uma luva.
Recentemente encontrei-me com ela. Achei-a um pouco desanimada e apenas muitos dedos de conversa depois, consegui arrancar a saca-rolhas o motivo de todo aquele desânimo: afinal, os opostos podem atrair-se, mas nem sempre se suportam.
A minha ex-colega que estava habituada a fazer tudo, não fazia quase nada. Ele que era pacato - demasiado pacato - não gostava de fazer grande coisa, nem de conviver em jantares, saídas com amigos e afins e preferia ao invés de tudo isso, ficar em casa a jogar Ps4, ver séries e dormir. Ainda tentei perceber junto dela se não poderiam falar sobre o assunto e tentar arranjar uma forma de ambos fazerem algo que gostassem em conjunto mas acabei por perceber que ela já se tinha acomodado. Fiquei triste por ela, não parecia a colega que em tempos me desafiava para tudo e mais alguma coisa sempre com uma energia contagiante.
Fiquei a pensar naquilo. Não percebo porque é que para muitas pessoas a palavra casal tem como sinónimo acomodação. Será assim tão irreal entender-se que uma vida a dois não é uma acomodação mas sim uma junção daquilo que duas pessoas fazem, gostam e querem partilhar com a cara metade? Acredito que numa relação nem todos gostem do mesmo e isso é mais do que aceitável, mas ninguém deverá abdicar de algo que quer ou que gosta em prol de outra pessoa se esta não estiver disposta a fazer o mesmo por ela.
Já dizia a jornalista Martha Medeiros:
" Ninguém sabe direito o que é felicidade,
mas, definitivamente, não é acomodação.
Acomodar-se é o mesmo que fazer
uma longa viagem no piloto automático.
Muito seguro, mas que aborrecimento.
É preciso um pouquinho de turbulência
para a gente acordar e sentir alguma coisa,
nem que seja medo."